terça-feira, 23 de novembro de 2010

Mini monografia sobre "O Caso Jean Carlos e a Ética no Jornalismo" - Ética Jornalística

Novembro de 2010

"O Caso Jean Carlos e a Ética no Jornalismo"

Introdução

“Termo coletivo usado para se referir às indústrias de comunicação e aos profissionais envolvidos”. Essa é a definição para “mídia”. Nos tempos de hoje, muitos não apoiam a mesma, pelo simples motivo dela ser altamente manipuladora e ter prejudicado diversas pessoas. Diariamente, vemos casos de manipulação pela mídia. “Em 26 de julho de 2005, o técnico em Enfermagem Jean Carlos da Costa Rocha, foi preso no Hospital da Restauração (HR), no Recife, acusado de masturbar meninos. No momento, o rapaz encontrava-se no local, pois uma amiga sua estava internada. No dia do ocorrido, por volta das 10h da manhã, Jean estava saindo da sala e tirando a bata, quando se deparou com uma mulher o apontando e em seguida dois policiais que estavam no local fazendo a escolta de um preso, foram logo o segurando e dando voz de prisão. Sem saber o que fazer, o técnico caiu em lágrimas. Ali começara a condenação de mais um inocente.” (Parte retirada do trabalho).

Jean foi inocentado anos depois, mas teve de se mudar, pois sua vida na cidade passara a ser praticamente impossível. Ninguém queria por perto um “maníaco”. O técnico em Enfermagem mora hoje no sul do país e tem uma vida estabelecida.
O que ocorreu com Jean é mais um caso do que ocorre com muitas pessoas.

Indivíduos são acusados injustamente e sofrem uma grande pressão da mídia contra eles. Jornais, revistas, TV, rádio... Todos querendo um furo de reportagem, uma boa matéria, um fato chocante. Não se interessam na vida do acusado, nem sequer respeitam os códigos de Ética Jornalístico que lhes foram ensinados.

Todo o artigo dois do código fala da importância e responsabilidade do conteúdo de uma matéria. Todo jornalista deve ter o máximo de cuidado ao acusar um indivíduo, que pode até ser inocente e ter sua vida destruída por ele, como foi o caso de Jean. Deve-se respeitar o entrevistado e a divulgação do caso deverá ser precisa e correta. Isso não ocorre nos dias de hoje.

Jean, depois de anos, foi inocentado e conseguiu sua vida de volta, mas a mídia não pôs isso em capa como fez e nem sequer se desculpou. Uma simples nota no jornal foi o suficiente. Mas, para aqueles que se prejudicaram e vem se prejudicando completamente por causa da mídia? São esquecidos?

Esse trabalho serve para mostrar o poder que a mídia tem, e como ela usa-o, tanto para o bem quanto para o mal. Poder demais leva pessoas a cometer absurdos, passar por cima da lei e de si próprio.

2. O Caso

Em 26 de julho de 2005, o técnico em Enfermagem Jean Carlos da Costa Rocha, foi preso no Hospital da Restauração (HR), no Recife, acusado de mastubar meninos. No momento, o rapaz encontrava-se no local, pois uma amiga sua estava internada. O mau entendido aconteceu já que ele não era funcionário do local. “Fui ao HR após meses sem ir ao local. Uma grande amiga minha estava internada por questões de queimadura e sem receber visitas, me senti na obrigação de visitá-la e dar apoio”. Jean já havia sido funcionário do estabelecimento anos atrás.

No dia do ocorrido, por volta das 10h da manhã, Jean estava saindo da sala e tirando a bata, quando se deparou com uma mulher o apontando e em seguida dois policiais que estavam no local fazendo a escolta de um preso, foram logo o segurando e dando voz de prisão. Sem saber o que fazer, o técnico caiu em lágrimas. Ali começara a condenação de mais um inocente.

Sem ter como se defender, ele foi levado à delegacia, onde foi questionado diversas vezes. Jean foi orientado a confessar um crime que não havia cometido. No outro dia, o rapaz teve sua cara estampada em todos os jornais da cidade e os programas “policialescos” locais aproveitaram da situação para conseguir o seu minuto de audiência absoluta.
Uma semana depois, o delegado chamou a mãe que havia denunciado o enfermeiro e eis que surge a novidade que, a mulher havia dado um nome e endereço falso. Não havia mais provas contra o rapaz, porém, ele já estava condenado pela sociedade.

2.1 Caso Jean Carlos x Ética da Imprensa

Há quatro anos repercutiu na imprensa pernambucana e em alguns veículos regionais, a notícia do técnico de enfermagem Jean Carlos da Costa Rocha, de 22 anos, que foi preso acusado de abusar sexualmente de pacientes do sexo masculino, no Hospital da Restauração.
As instituições que, na disputa para manter o direito fundamental do cidadão a informação, presente no Art 1º do capítulo I do Código de Ética dos jornalistas brasileiros, acabaram infringindo as normas desse mesmo código que disciplina e condiciona a ética da liberdade de imprensa.

A notícia da prisão de Jean Carlos foi alardeada e fortemente dolorosa entre os parentes e familiares, bem como, na própria índole moral e social do técnico de enfermagem, quando a imprensa em busca do “furo” e incentivada pelo imediatismo, acabou engolindo de vez uma infração salgada, quando levou as páginas dos jornais, aos VTs dos noticiários locais e aos programas populares radiofônicos, a exposição do caso.

Sem a devida apuração e provas consistentes, acabou levando nas costas uma ferida ao errar drasticamente em não cumprir eticamente o que manda o Art 4º que enfatiza o seguinte: o compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos, e deve pautar seu trabalho na precisa apuração dos acontecimentos e na sua correta divulgação.
A imprensa agiu com ferocidade e levou a carreira profissional e a vida social de Jean Carlos as ruínas, ao tornar público o seu próprio erro, na época imperceptível, mas que lá na frente com a comprovação de inocência do enfermeiro, fez feio ao infringir a conduta profissional do jornalista, quando foi de encontro ao inciso VII do Art 6º, quando não respeitou o direito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do cidadão;

Durante a realização do trabalho desse caso, buscamos ouvir alguns jornalistas de alguns veículos de comunicação que escreveram matérias na época e após passado os quatro anos de vida do sensacionalismo da imprensa pernambucana em torno dessa história de Jean Carlos que saiu fortalecido e de cabeça em pé com sua inocência, fomos ouvir alguns deles.

Numa breve conversa com a editora-chefe do jornal Diario de Pernambuco, Paula Losada, questionamos como o jornal se comportaria sobre as matérias publicadas acusando Jean sobre os supostos abusos sexuais no HR, mesmo depois de se comprovar a anulação de sua culpa. Paula Lousada disse que o jornal publicou e fundamentou sua responsabilidade em informar, baseado em relatos policiais.

A ação contraditória vai de encontro ao principio básico do jornalismo: a apuração séria e responsável. Será que o jornal caiu na desvantagem de um relato prévio de uma instituição de segurança pública e deixou de lado a premissa de uma séria investigação jornalística, para atender uma emergente exclusividade editorial.

A atitude do DP e dos demais veículos, fugiu do compromisso do código de ética ao desrespeitar o Art 8º quando culpou a polícia como a fonte principal do erro ao repassar que o Jean Carlos tinha praticado os abusos.

O artigo deixa evidente que o jornalista é responsável por toda a informação que divulga. Reforçamos ainda mais o pensamento ao trazer o que defende o Art 11no inciso II, quando deixa claro que o jornalista não pode divulgar informações de caráter mórbido, sensacionalista ou contrário aos valores humanos, especialmente em cobertura de crimes e acidentes.

Um caso como este, é a prova do quão a mídia é despreparada na hora de investigar e apurar as notícias. A busca incessante para dar o “furo jornalístico” não permite a calma e a confirmação, é preciso ir logo a redação, fazer a matéria mais apelativa e melhor que o do concorrente. Com tudo que nos foi apresentados, consultamos o Código de Ética dos Jornalistas da Fenaj para compararmos quais artigos foram desrespeitados. E observamos que:

Art. 2º Como o acesso à informação de relevante interesse público é um direito fundamental, os jornalistas não podem admitir que ele seja impedido por nenhum tipo de interesse, razão por que:

I - a divulgação da informação precisa e correta é dever dos meios de comunicação e deve ser cumprida independentemente da linha política de seus proprietários e/ou diretores ou da natureza econômica de suas empresas;

II - a produção e a divulgação da informação devem se pautar pela veracidade dos fatos e ter por finalidade o interesse público;

Art. 3º O exercício da profissão de jornalista é uma atividade de natureza social, estando sempre subordinado ao presente Código de Ética.

Art. 4º O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos, deve pautar seu trabalho na precisa apuração dos acontecimentos e na sua correta divulgação.

Art. 6º É dever do jornalista:

VI - não colocar em risco a integridade das fontes e dos profissionais com quem trabalha;

VIII - respeitar o direito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do cidadão;

Art. 7º O jornalista não pode:

IV - expor pessoas ameaçadas, exploradas ou sob risco de vida, sendo vedada a sua identificação, mesmo que parcial, pela voz, traços físicos, indicação de locais de trabalho ou residência, ou quaisquer outros sinais;

Art. 8º O jornalista é responsável por toda a informação que divulga, desde que seu trabalho não tenha sido alterado por terceiros, caso em que a responsabilidade pela alteração será de seu autor.

Art. 12 O jornalista deve:

II - buscar provas que fundamentem as informações de interesse público;

VI - promover a retificação das informações que se revelem falsas ou inexatas e defender o direito de resposta às pessoas ou organizações envolvidas ou mencionadas em matérias de sua autoria ou por cuja publicação foi o responsável;

2.2 As conseqüências de um mau jornalismo

Após ter tido sua vida revirada, Jean descobriu o peso que a mídia tem. Sua família teve sua casa depredada, murro pichado e carro arranhado. O enfermeiro foi demitido do trabalho, sua mãe que era cabeleireira de um bairro popular, não tinha mais clientes. Foram poucos os amigos que se mantiveram ao lado da família.

O enfermeiro recebeu um pedido de desculpas por parte do Conselho Regional de Enfermagem de Pernambuco (COREN) e foi a partir daí que as coisas começaram a melhorar no âmbito profissional. Somente um ano depois, ele conseguiu ter sua vida de volta, tudo começava do zero. Mas nada era como antes. Jean conseguiu um emprego em um hospital particular em Boa Viagem, trabalhou lá durante 3 anos, até que um dia, ele foi reconhecido e teve todas as matérias coladas no quadro principal do hospital. O rapaz não agüentou e hoje mora em Blumenau-SC onde tenta refazer sua vida. “Deixei todas as coisas ruins em Recife e não pretendo voltar para lá nunca mais”.

O trabalho nos permitiu observar na prática aquilo que havíamos visto na teoria, sobre a imprensa e a forma como ela manipula as informações. Um caso como o de Jean Carlos é a prova de que jornalistas formados e aqueles em formação, como nós, devemos ter a maior cautela possível quando nos depararmos com uma informação nova ou um furo a cobrir.

Muitas vezes a pressa justificada pelo deadline, a cobrança do editor, a audiência e o furo de notícias são colocados como “fatores que justificam” este tipo de conduta antiética dos profissionais. Mas pensamos que, antiético mesmo, é se usar dessas desculpas para justificar um erro que é condenável no código da própria profissão, muitas vezes desconhecido.

3. Conclusão

O trabalho permitiu a reflexão sobre a importância da ética dentro da profissão, uma vez que pode-se condenar injustamente uma pessoa, como Jean foi condenado, e acabar com a vida dessa pessoa, que fica exposta a todo tipo de julgamento ante a sociedade.

Pensamos que cabe ao jornalista, encarregado de produzir as matérias que a sociedade lerá, ter o cuidado e a sensibilidade na hora de escrever, em pensar um pouco mais nas pessoas que estão envolvidas num fato, e no modo como ele vai escrever sobre estes envolvidos, sejam acusados ou não. Cabe a nós, vigiarmos constantemente e colocar em prática aquilo que prega o Código de Ética dos Jornalistas nas redações, adotando assim uma postura mais séria para o veículo e também com os leitores, a fim de evitar que novos casos como o de Jean Carlos apareçam.

Créditos à: André Maia, Isabella Andrade, Juliana Isola e Vítor Albuquerque

Um comentário: